dimanche 11 janvier 2009

Evocaçao do Gragoata

Nos saiamos todos os dias no fim da tarde. Todas as meninas. Todos os dias. E por volta de quatro e meia da tarde começava o fim da tarde. Os "meninos" voltavam do curso preparatorio à escola militar e se postavam na rua, numa brincadeira ruidosa. Anunciando sua chegada, claro, mas nos, as meninas, nao sabiamos disso. Oficialmente eles se divertiam entre eles, sem nem mesmo olhar pra nos. Oficialmente nos tinhamos terminado os deveres e estavamos conversando entre nos tranquilamente. Na rua, num trecho de rua tranquilo, onde era raro passarem carros. Os " meninos" se exibiam, gritavam, uivavam, riam alto, se empurravam, faziam mil e uma piadas, contavam casos. Nos, "as meninas", riamos, acompanhavamos o show. As vezes havia um ou outro dialogo. Havia o bonitao, por quem todas nos eramos muito pouco secretamente apaixonadas. Havia o intelectual blasé, que bancava o intelectual blasé de 17 anos e queria ser economista quando todos os outros queriam ser oficiais de marinha e o chato agressivo que nao gostava de meninas ( nem de meninos, era o chato total, além de violento). Havia o "garoto" que so tinha quinze anos. Pra esse nenhuma de nos dava bola. Nos ja tinhamos 13 anos, ora. E havia todos os outros entre os 13 e os 17 anos que, sem morarem na rua, vinham rir - era esse o grande programa - no trecho que ocupavamos entre quatro e meia e seis horas, de segunda a quinta-feira. As seis, seis e meia no maximo, todo mundo "entrava". Mesmo porque as maes dos "meninos" zelavam por que seus rebentos estudassem muito à noite. As provas da AMAM, IME e outras misteriosas siglas tinham fama de ser fogo.

E ai eu descobri outra turma, noutra rua. E entao era eu que às quatro e meia atravessava garbosamente o grupo e mudava de rua. Ganhando, claro, fama de "metida". Ia pra casa de minha nova amiga, que ja tinha quinze anos e namorado firme, era uma garota com uma classe enorme, que nao ficava sorrindo feito nos, as idiotas, mas era séria e olhava firme nos olhos das pessoas. Ela ja estava no curso Normal , no Instituto de Educaçao e, junto com uma das irmas do namorado, dava aulas particulares numa varandinha dentro da enorme casa dela. Era alias na casa dela que a coisa se passava. Ela tinha muitos irmaos e primos e todos tinham muitos amigos. Essa turma nao queria ser militar. Os "rapazes" ( "meninos" eram os da minha rua) queriam ser engenheiros ou médicos e faziam também cursinho, claro. E havia os que ja nao estudavam, que tinham concluido o "cientifico" ou o " técnico em contabilidade" e que, por necessidade de familia, ja tinham começado a trabalhar. Mas todo mundo posava de intelectual. Ali se discutia literatura, musica classica, filosofia. Bem, bem, a musica classica vinha a partir dos "classicos para dançar" de Ray Conniff e dos Single Singers. Mas vinha. O namorado de minha amiga comprava os discos com os classicos em questao em sua versao "verdadeira" e nos ficavamos ouvindo, fazendo as caras adequadas à ocasiao. A filosofia era talvez como deve ser mesmo: na raça. O dito namorado de minha amiga comprava um livro de ... digamos Schopenhauer, e começava a ler. Dai o tal livro passava de mao em mao e todo mundo interpretava como podia. Mas na maior circunspecçao. O que nao se podia era bancar o bobo alegre ( Meu pai achava muito engraçado tudo isso. Uma vez chegou em casa me dizendo que tinha encontrado meu amigo filosofo no barbeiro - pois é, no barbeiro - fazendo pose na cadeira com a cara toda ensaboada). Em literatura estavamos em Herman Hesse e os problemas relativos ao bem e ao mal. Pois é.

Desde quinta-feira começava a preparaçao do fim de semana. Onde é a festa? Alias as festas se chamavam bailes. Havia baile toda semana. Na pior das hipoteses, aos domingos havia domingueira no clube. O problema é que minha mae achava que às domingueiras eu so poderia ir depois de completar 15 anos. Mas havia os bailes excepcionais, que eram muitos, com as orquestras especiais. A esses se alguma de nos fosse proibida de ir iria direto ali do lado se enforcar. Baile da Primavera, das Flores, do Verao, do Inverno, de Abertura das Férias, de Encerramento das Férias, de Eleiçao da Rainha do Clube, de despedida da Diretoria que saia, de recepçao da que entrava...

Enfim havia baile, pelo menos um, toda semana. Na maioria das vezes em casa, cada dia na casa de um, quando se chamavam entao " brincadeira". Todos levavam discos. Os convidados levavam também os sanduiches, docinhos de leite condensado, refrigerantes ou material pra fazer cuba-libre ou umas bebidas que eu particularmente achava horrorosas, com leite condensado e sei la qual alcool. Bebidas que, misteriosamente, eram permitidas pelas familias. Por outro lado, ninguém bebia cerveja, que so fui de fato conhecer, na faculdade. As vezes uma familia nao tinha vitrola (pois é, vitrola, daquelas de armario, pesadas), a minha, por exemplo. No problem, os "rapazes" carregavam a vitrola nas costas desde, por exemplo, a casa de minha amiga até a casa onde se fazia a " brincadeira". Por outro lado, na maioria das casas nao havia espaço pra se dançar, entao os moveis tinham de ser tirados da sala e postos no corredor, na area ou na varanda, pra dar espaço.

Saber dançar era muito importante. Todos os ritmos. Havia os especialistas de cada ritmo e havia as que ensaiavam diante do espelho de tarde. Nos bailes e brincadeiras se namorava, claro, mas sobretudo se dançava muito. Literalmente o tempo inteiro, o que quer dizer que o conceito de namoro era muito diferente. A gente namorava enquanto dançava, o que faz toda a diferença. (Bem, tinha a ida e a volta, era entao que a coisa se passava mas o tempo era curto e estavamos sempre em bando. Ou quase sempre ). De modo geral, ficar uma unica musica sem dançar ja era inquietante. O que explica também o fato de que o cuba-libre nao fazia mal a ninguém. Dai a diferença das brincadeiras pros bailes nos clubes, onde havia as varandas tao temidas pelas maes. Um baile pra ser considerado bom tinha de durar até as 3 da manha . Uma festa de 15 anos também Nas casas as maes resistiam até 1h30 mais ou menos. E na manha seguinte quem chegasse às 11 na praia ja chegava tarde, mesmo porque tinhamos de voltar pra casa no maximo às 13.

Dançamos nesse ritmo durante mais ou menos dois anos. Depois todo mundo fez 15 anos e "arranjou namorado firme", outras preocupaçoes e interesses. E ja nao era mais a mesma eletricidade que corria quando chegava a noticia de que Ed Lincoln ou Severino Araujo animaria o baile, o mesmo alvoroço nas tardes de preparaçao, quando o cabelo demorava a secar, o mesmo aperto na boca do estomago quando o Casino de Sevilla dava seus primeiros acordes ou Nat "King" Cole cantava Stardust por entre os chiados da agulha.

E todo mundo estudou e todo mundo terminou o "segundo grau". Dos "meninos", so um conseguiu entrar na Aeronautica: o chato violento. Com ditadura e tudo, ou talvez exatamente por causa dela ele chegou a brigadeiro. Tudo a ver, escrito no destino. Os outros foram reprovados para as carreiras militares. Tornaram-se engenheiros. O que queria ser economista tornou-se economista. Dos "rapazes", uns formaram-se em medicina e pelo que sei, fazem brilhantes carreiras. Outros seguiram caminhos diversos. Todos se casaram, alguns varias vezes. Acho que todos tiveram filhos. Meu amigo mais querido ja olha pra nos a partir das estrelas.

Das meninas, umas casaram uma vez, outras casaram varias vezes, outras nao se casaram. Umas tiveram filhos, outras nao. Tornaram-se psicologa, quimica, nutricionista, arquiteta, economista, sociologa, funcionaria publica, donas de casa, dona de butique, artista plastica, professoras.

Muita agua rolou depois que paramos de dançar. Houve noivados e casamentos, filhos, brigas e reconciliaçoes, traiçoes, separaçoes. Houve mudanças, viagens, carreiras, doenças e mortes. A maioria melhorou de vida, houve os que ficaram ricos, alguns muito ricos, houve os que continuaram pobres. Mudamos, de cara e cabelo, mudamos de olhos e riso. Mas como disse o santo Ferreira Gullar, esse tempo esta comigo, esta, perdido em alguma gaveta.

mercredi 31 décembre 2008

FELIZ ANO NOVO

http://fr.youtube.com/watch?v=6kVBqefGcf4

dimanche 7 décembre 2008

Gente de Paris I

Porque uma cidade é sobretudo as pessoas que a habitam, periodicamente apresentarei parisienses. Não necessariamente nascidos em Paris.
Assim Catitu Tayassu nasceu no Brasil. E uma escritora brasileira em português e em francês, pesquisadora em Historia Cultural ( Literatura e Praticas de Escrita), professora de português. Ela coordena em Paris o projeto "Pela vida Afora/ Pour la vie ailleurs" que trabalha questões relacionadas às migrações internacionais ( idéias, pessoas, povos, linguas, talentos, competências ). Atualmente colabora com dois projetos de filmes sobre a "négritude" e a época pos-apartheid na Africa do Sul, coordenados pelo diretor francês Kal Sory Touré. E autora de "Écris-moi", "6ix histoires d'amour, 9euf miracles en Afrique", "Un voyage sur le Fleuve Saint-François" e "En 1949" E trabalha ainda num novo projeto literario, "Ça s'est passé au Faubourg". Sobretudo ela é muito reticente quanto ao interesse deste tipo de apresentação... mas nos ofereceu, de bom grado, uma amostra de sua arte da mistura, perdão, do mélange, quer dizer, do patchwork, isto é, da literatura, se não for mais proprio dizer da escrita.

Cidade luz
Catitu Tayassu

A cidade reinventou a luz. Não. As luzes reinventaram a cidade e é, por isso, que ela se fez conhecida como cidade luz. Talvez. Contudo, nas cidades orientais perdura um mesmo e antigo ditado, onde predomina a luz o escuro tem sempre lugar. Verdade. No colo obscuro da cidade navega também um rio. Imaginário. Como tudo, quando não se consegue ver, portanto, não se pode racionalizar. Dentro dele sobrevive uma cidade velha. Velhíssima. Meio lúcida e meio caduca, depois de seus 500 anos. Esquecida. Apagada. Sem tombo histórico. Assim, obliterada, ela permanece entre os homens e mulheres de agora, pois a ignorância nasceu de um denso nevoeiro e, num dia de chuva, a caligem dispersou a escuridão. Buscou olhos e corações humanos. Nessa cidade não faltam. Sim. Nessa mesma cidade, dentro do rio, abaixo dos homens, aquém da memória, acima de mim, de ti, de nós, nela, residem palavras obsoletas, as quais se perderiam se não fosse a assistência do meu Tupi Dicionário… Te! Oipotareté jandé ramui recobiar eté jandébe. Jandé poreassu ocar. Jandé có guassu guera. Tirecoaba apó oaé jandé robajara ári. Toerecoaba mocaba, ombaé aé. Máramo s’antã gatu ey’mone? Memé, taé, morerobiarã. Tisaang apó oé Mara jandé iru. Mã retá mororoar ore rupiara. Anhebé oé. Nei, xe aturassap! Mbaé ressé jandé mong’etá? Sé! Mbaé tetiruã ressé. Marã piang ybaca rera? Le Ciel. Le Ciel. Anhebé. Teí ranhebé tessenõi mbaé tetiruã ndebe… Eis aí ! O que quiseram tanto os nossos avós para nós. Nossa querida aldeia [cidade]. Nossas grandes roças [devastadas por largas avenidas com seus cavalos à motor]. Conduzamo-los contra os nossos inimigos. [o pior deles: a selvajaria pelo vil metal, pela ganância, pelo papel moeda] Que levem arcabuzes, suas próprias armas [de fogo e sangue em suas lutas menores]. E porque não serão bastante fortes? [porque não há fraternidade sem liberdade e a tal igualdade tornou-se palavra obsoleta, senão, utópica em sua expressão urbana]. Juntos, diremos, serão impávidos. [rios e mares cotejados por pontes, fronteiras e vizinhanças sem cercas e muros] Experimentemos sua força junto de nós. [eles, no entanto, não nos reconhecem!] São eles que andam a vencer nossos adversários. Assim é. [uma mentira atrás da outra; a invenção da própria história] Eia, conversemos com os que nos procuram. [Pourquoi pas?] Ora pois, meu aliado! [Somos muitos!] Sobre que será nossa conversa? [Conversa prá boi dormir, cigarro de palha, café com água de rio e um samba de Noel ou de Cartola] Sei lá! [Nem eu; já passam das quatro horas; a cidade renasce e nessa cidade, que pena, não há nem galos e nem arautos para o anúncio de um novo dia] Conversaremos, pois, sobre assuntos diversos. [tantos quantos em igual atraso, depois desse tamanho exílio…] Qual o nome do céu? O Céu. Apenas céu. Muito bem. Seja dito em primeiro lugar, entre as várias coisas que te direi. [Ybaca, o céu]. Nessa cidade o céu parece ainda mais inventado. Ele desanoitece sem serenata. Adormece sem poetas de rua, carnaval, mamulengo, cuíca, cavaquinho e Patativa. Ai que saudade do Patativa! Ele moraria no rio subterrâneo, mas não nessa cidade. Claro que sim! Claro que não! Nela não se vêem, quase nunca, as filhas e os filhos do céu! E daí, Patativa era cego! Não. Cego foi quem não viu Patativa. Cego é quem não tem céu nos olhos pra ver. Lua. Estrela. Planeta. Os anéis de Saturno. O amor de Vênus por Marte. As três Marias da Noite. O urso polar e as Estrelas Cadentes. Aqui, apenas, les étoiles montantes do cinema francês. Então, diga lá, como é que essa gente pede um milagre, um desejo, um impossível? Cadentes não há! A bússola dos navegantes também não se vê no céu. A cauda do escorpião? Foi engolida por novo satélite. E as nuvens encobrem a Mãe. A sua, a tua, a nossa. A Estrela D’alva, mãe de todas. Estrelas que ninguém vê. Embora, na cidade-luz vê-se pelo vermelho alaranjado do céu os primeiros sinais de chuva para a manhã do dia seguinte. Bem cedinho. Vê-se, também, uma neblina acinzentada. Poeira ou poluição? É tudo igual. Igualzinho em São Paulo, em Nova York, em Pékin. Tudo igual, não. Nessa cidade há sobretudo diferenças. Vê-se, por exemplo, pontos, luzes e riscos… No meio céu… Arte cósmica deixada pelo ziguezague dos aviões que levam pra longe os que podem voar e os não autorizados pelo país. Por isso, dever ser, pica-pau aqui não vem! Se vem não fica. Pica-pau voa duvidando do vôo. Quem disse e escreveu, foi-se embora. Deixou a terra encarnada. Amigou-se ao céu azul. É conhecido como um Rosa Guimarães, o qual sabia do rio debaixo de cada cidade e, assim, molhava a sua pena com tinta d’água. Água de rio. Água de chuva. Encharcou a sua cidade, a minha, a tua e a de muitos. Gente molhada de ponta à cabeça. Gente pintada com tinta bonita quando de suas palavras sertanejas. Gente branca e mestiça, índia e negra, qualquer uma e todas. Veredas. Gente desenhada por palavra viva e reinventada. Gente cheia de luz. Gente cheia de sombra. Tudo é gente. Cada gente é uma cidade. Um chão entreaberto pelo asfalto. Por onde eu assisto o rio que atravessa essa cidade. Cidade Pedra. Cidade Palavra. Cidade Velha. Cidade Luz.

lundi 1 décembre 2008

Barcelona, a primeira vez

Fui a Barcelona pela primeira vez ha muitos anos, com uma amiga. Maria Lucia era a chefe da expediçao, ela que ja estivera na Europa varias vezes e que falava todas as linguas.
Chegamos de trem. Maria Lucia, espertissima, sabia como economizar cada tostao de nosso suado dinheirinho . Na estação olhou para os lados e descobriu um senhor com cara de quem procurava alguém. Olharam-se os dois e ele nos abordou. Propunha-nos um quarto no apartamento que dividia com seu filho e sua nora. Eu, apavorada, quis recusar. Minha amiga aceitou calmamente. O preço era baratissimo e o apartamento perto da estaçao. Subimos uma escada escura e oscilante e no primeiro andar entramos no apartamento onde um casal bem jovem ja mostrava outro quarto a um outro hospede que parecia, como nos, ter sido pescado na estaçao.
Deixamos as malas e fomos passear. Ja estava tudo escuro mas iriamos embora na noite seguinte e cada hora era preciosa. Na rua fizemos sinal para o primeiro ônibus que passou. Onibus vazio, so o motorista e nos. Ele nos olhou sorridente e perguntou-nos se éramos turistas . A resposta parecia obvia. Perguntou-nos entao se queriamos jantar muito bem. Maria Lucia disse que sim e que tinha uma indicaçao. -Mas não, respondeu ele, não é o melhor lugar. Vou deixa-las num restaurante muito melhor. E toca a fazer minha amiga gastar seu castelhano. Eu, super apreensiva. Deixou-nos numa rua escura e disse-nos que subissemos a rua ao lado. Maria Lucia agradeceu e intrépida, seguiu as indicaçoes. Eu trotava atras dela, meio atordoada.
Chegamos a um enorme restaurante, como uma grande churrascaria. Completamente vazio. Ao fundo, um grupo de homens conversava. Ja iamos dar meia-volta quando um deles nos viu e veio-nos receber. Era o dono, que estava com o gerente e alguns amigos. Fez questao de servir-nos e escolheu ele mesmo o prato que, segundo ele, tinhamos de comer. Ao saber que éramos brasileiras mandou chamar seu filho, que acabava de voltar do Carnaval do Brasil encantado, maravilhado, em transe. Veio o rapaz com estrelas nos olhos ao falar das férias. Puxou de dentro do bolso interno do paleto ( todos estavam de terno) uma pilha de fotos do Carnaval. Em cada uma estava ele abraçado com as mulheres mais gostosas com os biquines mais taitianos. Aquelas fotos. Maria Lucia e eu nos entreolhamos. Que é que estaria passando pela cabeça daqueles homens?
Pois é. Poderiamos ter ficado assustadas, poderiamos ter ficado constrangidas, poderiamos ter passado um mau momento. Se uma de nos não fosse Maria Lucia, a rainha do savoir faire, a dona da bola, diplomada em charme. Ela dominou a conversa e levou-a pra onde quis, contou casos, riu e fez rir, botou a homarada no seu lugar transformando todos na mais divertida companhia do mundo, nos permitindo saborear a melhor paella da minha vida. Saimos do restaurante com a noite ganha e a melhor impressao da Catalunha.
Voltei a Barcelona no inicio de novembro, com a familia. Quedê que eu consegui localizar o restaurante?

jeudi 27 novembre 2008

Politica para menores

Marcos Moreno evoluia futilmente nos salões do governador, D. Carlos Madariaga, sob o olhar desgostoso de sua noiva, a bela Isabela, filha do mesmo D. Carlos. Ao fim do baile o Cavaleiro da Noite ia encontra-la na sacada de seu quarto. Imersos no perfume intenso de jasmim sob o claro luar das Caraibas eles se beijavam e nem tanta proximidade deixava a bela Isabela descobrir que o revolucionario por quem se apaixonara não era outro senão seu noivo, o mesmo Marcos Moreno que usava a cobertura de poltrão e subserviente para melhor servir à causa revolucionaria de dentro do palacio do opressor espanhol. Nas sombras da enseada, o pirata Robledo e o gigante André coordenavam a guerrilha, que se chamava à época, guerra de emboscadas. A ilha de Porto Esperança seria libertada e a Radio Nacional explicava às crianças o que se passava em Sierra Maestra.
Enquanto isso, o Coyote, coberto pela poeira vermelha do deserto, chegava precipitadamente a uma rua e entrava, a cavalo mesmo, por uma porta que se abria sobre um patio ainda mexicano antes de ser californiano. Uma mulher o esperava com informaçoes e alimentos, blusa branca caida nos ombros e flor no cabelo. Soledade?
E assim, Beau Geste e seus irmãos, alistados na Legão Estrangeira, pareciam meio deslocados no norte da Africa. Os tuaregs, os selvagens homens azuis que empalavam os prisioneiros, eram realmente temiveis. Mas não estavam na terra deles? Argel, Oran, Sidi-Bel-Abbès, que é que faziam aqueles bons europeus em seus fortes construidos em territorio alheio? Beau Geste percorria à noite as ruas da cidade por entre as prostitutas vestidas com roupas muito coloridas, sentadas imoveis diante das casas. Somente seus olhos se mexiam, acompanhando os transeuntes. -"Não quero uma orquidea africana, quero uma rosa inglesa", dizia ele pensando na noiva deixada em Londres. Os irmãos Geste, aristocratas ingleses, estavam na Africa para proteger a honra de sua tia, por heroismo e fidelidade familiar. Outros tinham escolhido as areias para limpar a propria honra, arriscando-se em mil perigos, dos quais o maior era oferecido pelo sol, que cegava os que se perdiam no Sahara. Cada membro da Legião tinha sua historia secreta, seu crime oculto, seu romance escondido. As paginas se sucediam em três volumes que corriam de Londres a Addis-Abeba. Geraçoes de leitores amaram os mapas e os povos exoticos - ingleses, franceses e arabes. Mas uma pergunta restava no fim dos livros: que é que faziam os europeus na Africa? Que procuravam eles em suas incursões nos desertos?

Hino Nacional da Argélia

Ja que falei tao entusiasmadamente no hino, resolvi pôr logo o link para que ele possa ser ouvido. Depois porei também uma traduçao do francês. E como lamento nao poder ouvi-lo em arabe... Minha paixao por linguas estrangeiras é, infelizmente, recente.

http://fr.youtube.com/watch?v=xSdy2GlxOW4

mardi 25 novembre 2008

Fashhadoo

Fashhadoo quer dizer "Testemunhem" em arabe e é a palavra-chave do hino nacional da Argélia.
Outro dia, meus filhos e eu estavamos ouvindo na internet hinos nacionais de varios paises e fomos como que capturados pela força do estribilho do hino argelino: "Fashhadoo! Fashhadoo! Fashhadoo!".
Fomos procurar a traduçao e encontramos uma letra fortissima. O testemunho que o estribilho pede refere-se à luta pela independência do pais.
Procuramos mais e ficamos sabendo que o texto foi escrito no contexto da guerra de libertaçao, foi cantado pela primeira vez em 1957 e que foi adotado como hino nacional depois da independência da Argélia, em 1963. O autor da letra, o poeta Moufdi Zakaria, escreveu-a em 1955 com seu sangue nas paredes da prisao em que estava preso em Argel. A musica - muito bela - é de Mohamed Fauzi.
A Argélia é um dos temas delicados - delicadissimos - aqui na França. A Argélia, a colonizaçao francesa, a descolonizaçao, a islamizaçao do pais, as dividas da França para com a naçao argelina, a integraçao dos argelinos residentes na França à naçao francesa, os harkis - Meu Deus, sao feridas que parecem mais dificeis de fechar que as provocadas pela Segunda Guerra entre a França e a Alemanha.
Para a grande populaçao de argelinos habitante da França assim como para os franceses descendentes de argelinos, a integraçao à sociedade francesa nao é so um desejo, é uma imperiosa necessidade. A França é - ainda e ainda bem - um pais que exige e promove a integraçao de seus habitantes a um nucleo de valores estabelecido como francês. Ela se nutre da diferença mas pondo-a a serviço da unidade nacional. Assim, desde a mais tenra infância, na esfera publica o francismo é inculcado nas crianças. E imagino como deve ser dificil para um menino filho ou neto de argelinos ter de estudar na escola o processo de colonizaçao e de descolonizaçao francesa na terra de seus ascendentes. Alias, ha pouco tempo desencadeou-se uma grande polêmica tendo por tema a necessidade ou a oportunidade de os livros didaticos apresentarem desculpas francesas aos povos colonizados no Maghreb, que é como se chama aqui o norte da Africa.
Como se antevisse esse processo, o hino da independência argelino, hino de luta - como a Marselhesa - é épico, narrativo: ele conta como começou a luta, seus motivos, suas fases, desde as trataçoes diplomaticas até a guerra. E tem como estribilho um unico voto, dirigido aos ouvintes: Nao esqueçam, nao deixem esquecer. Contem a seus filhos para que eles contem aos filhos deles. Testemunhem! Fashhadoo!

dimanche 23 novembre 2008

Duas mulheres

As mudanças não vêm somente dos USA.

Aqui na França, duas mulheres disputaram na quinta passada ( 20 de novembro) a Secretaria Geral do Partido Socialista, o que não é pouca novidade. O que é uma marca historica, como disse, sendo citada por todos os jornais, uma delas, Martine Aubry, alias a vencedora.

Vencedora com 50,02 ou 50,04 %, segundo a fonte, dos votos dos militantes, chamados a decidir num segundo turno uma eleição que os dirigentes do partido não conseguiram resolver. 42 ou 49 pessoas, os numeros variando segundo a fonte, decidiram a vitoria. Uma vitoria dificil de comemorar e dificilima de pôr em pratica. Como é que se pode dirigir um partido claramente cindido ao meio? Que tipo de aliança pode ser feito numa circunstância dessas?
As diferenças entre Martine Aubry, 58 anos, e Ségolène Royal, de 56, são, neste momento, mais visiveis que as semelhanças que seguramente existem entre elas. Ségolène é Presidente do Conselho Regional de Poitou- Charente, centro-oeste ( região de Poitiers), um posto importante mas não de contato direto com o povo; Martine é prefeita ( "maire", porque "préfet" é um posto de policia) de Lille, no norte , isto é, tem um corpo-a-corpo cotidiano com a população. Ségolène é vista como alguém personalista, Martine como quem gosta do trabalho em equipe.
Ségolène, candidata derrotada à Presidência da Republica e ex-companheira do ainda Presidente do Partido, François Hollande, bonita, magra apesar de numerosas maternidades, cuidadissima, sempre ultra bem vestida, "a" classe, é uma figura midiatica à americana. Adora entrevistas e deve ter tido um coach para suas apariçoes pois sai sempre bem em suas fotos. Martine, por outro lado, parece cultivar a aparência austera que apresenta. Filha de Jacques Delors, o articulador da idéia de Europa e sobretudo do euro, foi, ela mesma, a responsavel pela adoção da semana de 35 horas, durante o periodo em que foi Ministra do Emprego e da Solidariedade. Fora do peso, cabelos curtinhos, parece não se preocupar nem com a aparência nem com a imagem, pois é dificil encontrar uma foto em que ela esteja sorrindo. Passa no entanto confiabilidade e firmeza.
Quanto às idéias que chegam ao grande publico como sendo os pontos-chave de uma e outra, enquanto Ségolène propoe uma refundação do partido, Martine pretende reorganiza-lo. Assim, enquanto Martine propõe que o partido busque a renovação de suas forças em seus proprios principios, que deveriam ser reforçados, Ségolène propõe uma modernização justamente do quadro de valores do PS, dizendo-se aberta a novas idéias. Se Martine tem propostas a discutir Ségolène trabalha utilizando propostas dos militantes que ela estimula a se manifestarem. Martine conta com o apoio de grande parte do aparelho politico, Ségolène tem sua força na vaga passional que é capaz de suscitar entre os militantes. Martine se cerca dos politicos tradicionais do partido, Ségolène se afastou desses que chama de "elefantes" , trabalha incessantemente o tema da renovação etaria, da necessidade de os "velhos" cederem lugar aos jovens e, claro, constroi sua força através da ala jovem do partido que ela, evidentemente, lidera.
A primeira vista, Ségolène é a mudança, Martine, a continuidade. A primeira vista.
Vistas de fora do processo, por uma nao-militante, Martine parece uma continuidade critica, prudente e dificil caminho, que pode levar tanto ao sucesso, à renovação quanto à estagnação. E Ségolène, que fascina por sua força pessoal absolutamente nova por aqui, assusta por seu personalismo, pelo desejo assumido de dirigir sem compromissos com seus pares no partido e pela maneira direta com que se comunica com o povo.

lundi 17 novembre 2008

Falar e dizer na Universidade

Ha pouco tempo, por circunstâncias profissionais, fui a uma cerimônia universitaria em homenagem a uma professora que se aposentava. Como não pertenço a seu circulo de amigos, não estava emocionalmente envolvida na despedida. Assim, os discursos que ouvi me pareceram estranhos. Pois giraram todos em torno do tema da "familia": "Fulana, eis aqui Fulano, Sicrano, Beltrano (e desfilaram todos os nomes dos membros do departamento a que pertencia a homenageada, assim como os de membros de outros departamentos, seus amigos pessoais), nos somos sua familia, você deixa laços de afeto, nosso amor a acompanha, volte sempre, volte quando quiser, venha nos visitar, precisamos de você, etc e tal".

Fiquei pensando que, caso tivesse tido um percurso estavel e viesse a me aposentar por limite de idade na universidade onde permanecera por trinta anos, como era o caso, não gostaria de ouvir um tal discurso. Gostaria de ouvir que meus cursos foram muito apreciados, que pelo menos alguns de meus alunos desenvolveram uma carreira, nao necessariamente universitaria, contando com idéias que tiveram a partir de minhas aulas, que o que publiquei fora util, que minha presença no departamento tinha sido aglutinadora, que eu tinha preparado minha saida. Claro que gostaria de saber que tinha feito amigos e que poderia contar com eles ( o que se espera dos membros da familia). Mas num momento crucial como esse, o que gostaria de ouvir era que eu concluia uma vida universitaria enfim, por definiçao aberta e justamente não familiar. Melhor ainda, que minha aposentadoria não significava minha reclusao perpétua a "meus aposentos" mas que o espaço publico continuava aberto para mim através dos programas de pesquisa dos quais eu ja fazia parte e dos quais continuaria a fazer parte, certamente noutra posição. Sonhos demais? Fiquei pensando também o que significariam tais discursos na boca de antropologos. Que diziam tais palavras sobre a homenageada e suas relações universitarias? Que diziam tais palavras sobre o conceito de universidade naquele circulo?

Lembrei disso depois de ler esta manha no blog de Mari-Jô Zilvetti, Nomadismo Celular, o artigo de Jonathan Franzen sobre o derramamento de sentimentos no espaço publico, merci, Mari-Jô!

dimanche 16 novembre 2008

Educaçao Sentimental

Finalmente ontem de manha fui assistir a Vicky Cristina Barcelona. Ja estava devendo. Bem, gostei, menos do que esperava mas gostei. Gostei muito de Scarlet Johanson e menos de Penélope Cruz. E verdade que a primeira interpreta muito a si mesma ( mas como, por exemplo, De Niro ou o proprio Woody Allen) mas Penélope faz o jogo do gringo e apresenta uma caricatura de espanhola louca. Talvez tenha sido o papel e nao a atriz mas o fato é que me incomodou aquela latinidade toda sob os olhos anglosaxonicamente bem-pensantes das duas moçoilas.

Woody continua falando do que falam todos: a vida dura so um dia, Luzia/ e nao se leva nada deste mundo. Toda a literatura, toda a arte diz isso: por que sera que ninguém acredita?

No fim da tarde, marido, cinéfilo compulsivo, que nao pode passar uma tarde sem outro filme, pôs Lancelot no leitor. E através dele revimos o Vicky. E Tristão e Isolda e Casablanca e A filha de Ryan e o magistral Elia Kazan de Splendor in the grass. Todos desenvolvem a mesma oposiçao: desejo ou dever? Vontade ou Sensação?Todos mostram que os sentimentos não têm muito a ver nesse momento crucial, que ao contrario, so servem pra atrapalhar. Amo? Nao amo? Amo como? Que "tipo de amor", etc... A quase-rainha Geneviève diz ao rei Arthur que o amor tem muitas faces. E um como sempre perfeito Sean Connery lhe responde que entao ele quer aquela que ela oferece a Lancelot , isto é, ao jovem Richard Gere (Minha mãe, que anda me visitando muito ainda não sei por que, dizia que o essencial numa relação era a "atraçao fisica" (sic), porque casamento era muito chato e sem " essa parte" ninguém aguentava).

Vicky Cristina Barcelona seria interessante se Vicky chutasse o balde e fosse substituir Maria Elena mas levando seu espirito de puritana americana junto com sua tradição de "pioneira". Ela organizaria a loucura do pintor que precisava, como diz a narração, de uma mulher em casa. Vicky e não Cristina, perdida demais, "artista" demais ela também. Seria uma receita ao menos nova. Assim como ficou, o filme repete o prototipo dos intermezzo à italiana dos anos 50 e 60, começa e termina no aeroporto e por isso é um filme velho. Uma repetição diminuida de Ricas e famosas que este sim é um susto, um soco, duas amigas, como sempre a loura louca e a morena bem-comportada, procurando seus respectivos destinos.
Procurando bem acho que o melhor exemplo de conduta é o de Ulisses, o esperto: não se pode perder o canto das sereias. Mas tem-se também de tomar todas as providências pra não morrer afogado. Alguém diz melhor?

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Capa de Ronaldo Graça

Interior de Saint Julien le Pauvre

Interior de Saint Julien le Pauvre

Marion e a igreja de Saint Julien le Pauvre

Marion e a igreja de Saint Julien le Pauvre

Barcelona

Barcelona

Barcelona

Barcelona

Museu da Catalunha

Museu da Catalunha

A arvore mais velha de Paris.Jardim de Saint Julien le Pauvre

A arvore mais velha de Paris.Jardim de Saint Julien le Pauvre

Jardim da igreja de Saint Julien le Pauvre

Jardim da igreja de Saint Julien le Pauvre

Igreja da Madeleine

Igreja da Madeleine

Das escadas da Madeleine. Ao fundo, a place Vendôme

Das escadas da Madeleine. Ao fundo, a place Vendôme

Barcelona- Gracia

Barcelona- Gracia

Rue de Bucci

Rue de Bucci

Barcelona

Barcelona

Charitas forever

Charitas forever
Foto de Elias Francioni

Passage Saint Andre des Arts

Passage Saint Andre des Arts

Cartão-postal

Cartão-postal
Foto de Vera Bungarten

Paris...

Paris...
Foto de Vera Bungarten

No centro do Louvre

No centro do Louvre
Foto de Vera Bungarten

Passages de Paris

Passages de Paris
Foto de Vera Bungarten

Livraria Shakeaspeare.Quartier Latin

Livraria Shakeaspeare.Quartier Latin
Foto de Ana Maria Lucena

Quartier Latin

Quartier Latin
50 anos de Ionesco

Tonico Pereira. Teatro da FAAP

Tonico Pereira. Teatro da FAAP

Le Petit Pont e l'Hôtel de Police

Le Petit Pont e l'Hôtel de Police

Feliz Ano Novo ( foto de Patrick Corneau)

Feliz Ano Novo ( foto de Patrick Corneau)
Dança, a esperança equilibrista porque o show de todo artista tem de continuar.

Ilha da Boa Viagem

Ilha da Boa Viagem
Foto de Elias Francioni

Rue de la Huchette. Quartier Latin

Rue de la Huchette. Quartier Latin

Xando Graça

Xando Graça

Pont Saint Michel

Pont Saint Michel

Les Invalides

Les Invalides
Foto de Vera Bungarten

A dama de ferro

A dama de ferro
foto de Ana Lucena

A côté du Beaubourg

A côté du Beaubourg
Foto de Vera Bungarten

Chez Procope

Chez Procope

Igreja de Saint Séverin

Igreja de Saint Séverin

Angulo da igreja de Saint Séverin. Quartier Latin

Angulo da igreja de Saint Séverin. Quartier Latin
(foto Ana Maria Lucena)

Detalhe da Catedral de Notre Dame

Detalhe da Catedral de Notre Dame

Bassin Igor Stravinsk (ao lado do Beaubourg)

Bassin Igor Stravinsk (ao lado do Beaubourg)
Foto de Vera Bungarten

Liceu Henri IV

Liceu Henri IV
foto de Maria do Rosario

Liceu Henri IV. Ao fundo, o Panthéon

Liceu Henri IV. Ao fundo, o Panthéon
foto de Maria do Rosario

Liceu Henri IV

Liceu Henri IV
foto de Maria do Rosario

Liceu Henri IV

Liceu Henri IV
foto de Maria do Rosario

Jardin du Luxembourg

Jardin du Luxembourg

Espetaculo de mimica

Espetaculo de mimica
Jardin du Luxembourg

Rive Gauche

Rive Gauche

Barcelona Arco do Triunfo

Barcelona Arco do Triunfo

Museu de Zoologia e Historia Natural

Museu de Zoologia e Historia Natural

Jardin du Luxembourg

Jardin du Luxembourg
O despertar da primavera