Um dos lugares mais agradaveis de Paris é o Jardin d'Aclimatation, no Bois de Boulogne.
E um jardim adoravel, aonde levei muitas vezes meus filhos. Trata-se basicamente de um parque saido diretamente das paginas dos livros da Condessa de Ségur, com um pequeno jardim zoologico e brinquedos pagos ( e caros) mas onde se pode fazer um bom piquenique levado de casa sobre a grama verde salpicada de margaridinhas brancas e amarelas na primavera e no verao ou coalhada de folhas vermelhas no outono e de pinhões no inverno. No espaço ha também um circo, um teatro e um museu. Na entrada do parque ha uma casa do século XIX onde as crianças podem fazer cursinhos de uma hora. Minha filha adorou um de chocolateria, que fez aos três anos...
O plano basico consiste em saltar na estaçao Porte Maillot, no 16ème arrondissement, atravessar a praça e pegar um trenzinho, na entrada do Bois de Boulogne. O ideal é conseguir o primeiro banco para ter a visao livre. Quando o maquinista esta de bom humor ele deixa até uma criança dirigir o bondinho... para grande ciume das outras. O bondinho atravessa uma parte do Bois e entra no Jardim. A entrada do Jardim é cobrada juntamente com a passagem do trenzinho mas a "viagem" vale a pena.
Esse jardim, que foi inicialmente, basicamente um zoologico, foi um presente de Napoleao III aos parisienses. No entanto, a partir do fim do século XIX, juntamente com animais selvagens nele eram exibidos ... espécies de povos selvagens!!! Os "indigenas" que nem sempre estavam inquietos, como gostava de observar nosso caro Fantasma Que Anda a sua querida Diana. Pois é: os colonizadores franceses exibiam a seus conterrâneos o objeto de sua "ação civilizatoria": nubios, daomeanos ( hoje seriam laotianos?) , esquimos, lapões, peles-vermelhas...
O sucesso é enorme e não apenas entre as crianças. Médicos, cientistas e universitarios vão também estudar essas raridades...
Foi preciso a eclosão da primeira guerra mundial ( 1914) para que tal exposição cessasse. De fato, ficava dificil expor juntamente com animais a povos que tinham lutado pelos franceses contra o inimigo alemão. Primo de companheiro de trincheira não pode servir como atração circence, não é mesmo? Alias foi essa mesma situação de trincheira - dessa vez no Vietnam - que fez com que acabasse de verdade o aparthaid nos USA, não é mesmo?
Toda essa historia espantosamente triste esta contada la mesmo, no Jardin d'Aclimatation. Os franceses amam a historia ( o verbo, alias) acima de tudo.
O Jardin é de fato lindo mas me lembrei dele a proposito de outro lugar, desta vez no Brasil, que tem um lindo nome: Raposa Serra do Sol.
Gostaria muito de saber a opiniao dos amigos sobre a questao da demarcação das terras da Raposa Serra do Sol. Acabo de chegar do Rio e, para minha surpresa, esse nao foi o tema de nenhuma conversa animada das muitas de que participei.
Daqui de Paris a perspectiva de se demarcarem terras continuas para os chamados indios - inda mais na fronteira - parece suicida. Se do outro lado - na Venezuela, por exemplo - ha as mesmas etnias que do lado brasileiro, que é que impedira que um grupo dotado de uma lingua propria, de costumes e valores que serao reconhecidos como singulares e de um territorio reivindique a independência junto aos organismos internacionais?
E quem ganhara com isso? Os indigenas? Ou grupos econômicos que, nesse caso, poderao negociar com um novo e pequeno pais e nao com o Brasil?
Li sobre o processo de independência do Panama e sua relaçao com a abertura do canal e fiquei pasma de ver que nossos representantes aparentemente nao ligam o nome à pessoa...
E sera que os "indios" querem continuar sendo "indios" no sentido estrito do termo?
Francamente duvido muito. Gente! Identidade é construção, é dinâmica! Não da pra passar ao largo dos antibioticos e mesmo, muito mais prosaicamente, do ferro de passar roupa.
Li o artigo publicado recentemente por Hélio Jaguaribe contra a demarcação nos termos em que esta sendo organizada e não pude deixar de concordar com ele. Em gênero, numero, grau e até em declinação. Ele diz, serenamente, que esta-se construindo um "jardim antropologico" que agradara muitissimo aos antropologos do mundo todo mas que nao sera do interesse dos indigenas. E citou Rondon - tão esquecido - e sua teoria da integração.
Concordo de novo: integração, pacto republicano. E disso que os indios precisam - e não so os indios. Nao de um " Jardin du Renard- Le-Mont-Soleil" tropical.
E um jardim adoravel, aonde levei muitas vezes meus filhos. Trata-se basicamente de um parque saido diretamente das paginas dos livros da Condessa de Ségur, com um pequeno jardim zoologico e brinquedos pagos ( e caros) mas onde se pode fazer um bom piquenique levado de casa sobre a grama verde salpicada de margaridinhas brancas e amarelas na primavera e no verao ou coalhada de folhas vermelhas no outono e de pinhões no inverno. No espaço ha também um circo, um teatro e um museu. Na entrada do parque ha uma casa do século XIX onde as crianças podem fazer cursinhos de uma hora. Minha filha adorou um de chocolateria, que fez aos três anos...
O plano basico consiste em saltar na estaçao Porte Maillot, no 16ème arrondissement, atravessar a praça e pegar um trenzinho, na entrada do Bois de Boulogne. O ideal é conseguir o primeiro banco para ter a visao livre. Quando o maquinista esta de bom humor ele deixa até uma criança dirigir o bondinho... para grande ciume das outras. O bondinho atravessa uma parte do Bois e entra no Jardim. A entrada do Jardim é cobrada juntamente com a passagem do trenzinho mas a "viagem" vale a pena.
Esse jardim, que foi inicialmente, basicamente um zoologico, foi um presente de Napoleao III aos parisienses. No entanto, a partir do fim do século XIX, juntamente com animais selvagens nele eram exibidos ... espécies de povos selvagens!!! Os "indigenas" que nem sempre estavam inquietos, como gostava de observar nosso caro Fantasma Que Anda a sua querida Diana. Pois é: os colonizadores franceses exibiam a seus conterrâneos o objeto de sua "ação civilizatoria": nubios, daomeanos ( hoje seriam laotianos?) , esquimos, lapões, peles-vermelhas...
O sucesso é enorme e não apenas entre as crianças. Médicos, cientistas e universitarios vão também estudar essas raridades...
Foi preciso a eclosão da primeira guerra mundial ( 1914) para que tal exposição cessasse. De fato, ficava dificil expor juntamente com animais a povos que tinham lutado pelos franceses contra o inimigo alemão. Primo de companheiro de trincheira não pode servir como atração circence, não é mesmo? Alias foi essa mesma situação de trincheira - dessa vez no Vietnam - que fez com que acabasse de verdade o aparthaid nos USA, não é mesmo?
Toda essa historia espantosamente triste esta contada la mesmo, no Jardin d'Aclimatation. Os franceses amam a historia ( o verbo, alias) acima de tudo.
O Jardin é de fato lindo mas me lembrei dele a proposito de outro lugar, desta vez no Brasil, que tem um lindo nome: Raposa Serra do Sol.
Gostaria muito de saber a opiniao dos amigos sobre a questao da demarcação das terras da Raposa Serra do Sol. Acabo de chegar do Rio e, para minha surpresa, esse nao foi o tema de nenhuma conversa animada das muitas de que participei.
Daqui de Paris a perspectiva de se demarcarem terras continuas para os chamados indios - inda mais na fronteira - parece suicida. Se do outro lado - na Venezuela, por exemplo - ha as mesmas etnias que do lado brasileiro, que é que impedira que um grupo dotado de uma lingua propria, de costumes e valores que serao reconhecidos como singulares e de um territorio reivindique a independência junto aos organismos internacionais?
E quem ganhara com isso? Os indigenas? Ou grupos econômicos que, nesse caso, poderao negociar com um novo e pequeno pais e nao com o Brasil?
Li sobre o processo de independência do Panama e sua relaçao com a abertura do canal e fiquei pasma de ver que nossos representantes aparentemente nao ligam o nome à pessoa...
E sera que os "indios" querem continuar sendo "indios" no sentido estrito do termo?
Francamente duvido muito. Gente! Identidade é construção, é dinâmica! Não da pra passar ao largo dos antibioticos e mesmo, muito mais prosaicamente, do ferro de passar roupa.
Li o artigo publicado recentemente por Hélio Jaguaribe contra a demarcação nos termos em que esta sendo organizada e não pude deixar de concordar com ele. Em gênero, numero, grau e até em declinação. Ele diz, serenamente, que esta-se construindo um "jardim antropologico" que agradara muitissimo aos antropologos do mundo todo mas que nao sera do interesse dos indigenas. E citou Rondon - tão esquecido - e sua teoria da integração.
Concordo de novo: integração, pacto republicano. E disso que os indios precisam - e não so os indios. Nao de um " Jardin du Renard- Le-Mont-Soleil" tropical.
2 commentaires:
Querida, copio parte de um post que publiquei lá na minha taba:
Sexta-feira, 18 de Abril de 2008
"tititi na taba"
Não conheço o assunto profundamente, mas me soaram coerentes as observações do homem da Amazônia sobre a questão da demarcação de terras indígenas na faixa de fronteira em Roraima, e discordo do homem da Funai de que nossa política indigenista é referência mundial, porque existem não sei quantos mil índios remanescentes de diversas tribos. Eu me pergunto em que condições vivem esses índios, se se pode mesmo falar em povos indígenas a essa altura do campeonato, com tantos e todos os males que eles não apenas herdaram da 'nossa' cultura (branca?) mas a cujos vícios também aderiram, muitas vezes por conveniência, ganância, e outras tantas para garantir a sobrevivência. Acho que a política indigenista brasileira era referência quando os Villas Boas ainda existiam, e mesmo assim ainda há controvérsias. De todo modo, os índios e os sem-terra constituem hoje grupos manipulados (acho que essa é a palavra) por setores de interesses variados e cooptados por causas poucas vezes nobres."
beijos,
vera
Obrigado por Blog intiresny
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