A França pode surpreender muito. Boas e mas surpresas. Dentre as mas, a questao identitaria.
Algum brasileiro imagina uma briga de alunos num colégio chique na qual uma aluna de 5° série xingaria um colega de qualquer coisa como " judeu filho da puta"? Nao é o " filho da puta" que me choca, é o "judeu"... Nao parece impossivel? Segunda parte da historia: no mesmo dia a garota, que tem necessariamente entre 10 e 11 anos, é espancada (ou apenas " sacudida", conforme as versoes) por colegas de 7a e 8a séries, pode? E em seguida desaparece do colégio, muda de colégio!
E ainda tem mais: no mesmo colégio, que segundo declaraçao de uma professora ao jornal Libération, tem uma maioria de alunos judeus, dois alunos de origem arabe, do norte da Africa (quer dizer, filhos de marroquinos , tunisianos ou argelinos) sao espancados na porta da escola por rapazes que distribuiam panfletos a favor da posiçao de Israel na faixa de Gaza. Panfletos que eles teriam jogado ostensivamente no lixo... E trata-se de um colégio publico chique, localizado no bairro mais caro de Paris, o XVI, com uma impressionante taxa de aprovaçao no baccalauréat!
Algum brasileiro imagina uma briga de alunos num colégio chique na qual uma aluna de 5° série xingaria um colega de qualquer coisa como " judeu filho da puta"? Nao é o " filho da puta" que me choca, é o "judeu"... Nao parece impossivel? Segunda parte da historia: no mesmo dia a garota, que tem necessariamente entre 10 e 11 anos, é espancada (ou apenas " sacudida", conforme as versoes) por colegas de 7a e 8a séries, pode? E em seguida desaparece do colégio, muda de colégio!
E ainda tem mais: no mesmo colégio, que segundo declaraçao de uma professora ao jornal Libération, tem uma maioria de alunos judeus, dois alunos de origem arabe, do norte da Africa (quer dizer, filhos de marroquinos , tunisianos ou argelinos) sao espancados na porta da escola por rapazes que distribuiam panfletos a favor da posiçao de Israel na faixa de Gaza. Panfletos que eles teriam jogado ostensivamente no lixo... E trata-se de um colégio publico chique, localizado no bairro mais caro de Paris, o XVI, com uma impressionante taxa de aprovaçao no baccalauréat!
Gente! Sempre pensei, no meu angelismo, que o radicalismo de questoes identitarias fosse reflexo da falta de meios de reflexao e, de uma maneira geral, da falta de meios... Quer dizer, que as pessoas prestassem atençao nas proprias origens ( e nas alheias) de maneira exagerada quando o presente estivesse bloqueado e nao se visse o futuro... Como as gangues de italianos, irlandeses ou portorriquenhos em Nova York, por exemplo... ou como nos suburbios franceses de hoje onde, à força de serem humilhados a partir da escola - e ai teriamos materia pra outro post - os "jovens" formaram até um nome pra se auto-designar orgulhosamente: "caillera", que é "racaille" ( gentinha) ao contrario. Existem hoje ética e estética "caillera" como, no Rio, ha ética e estética de favela ( que nao concerne a todos os moradores de favela).
Deus me livre de estar pregando o meio-termo, o bom-senso, o bom-mocismo a respeito dessa guerra. Aqui em casa temos opinioes bem definidas a esse respeito, opiniao que explicamos claramente aos filhos, com o apoio de livros, documentos e mapas. No entanto, explicamos também muito bem a eles que ha espaços onde a manifestaçao da opiniao é util e outros nos quais é imprescindivel que ela se cale em beneficio da convivência. Se houver uma passeata, um abaixo-assinado, uma discussao organizada, a manifestaçao das proprias idéias é desejavel. Em caso contrario, é pura provocaçao. E sobretudo, que politica exterior é coisa para adultos. Adolescentes devem fazer politica la justamente onde ela começa, no nivel micro, na classe, no centro de esportes, no recreio. E isso nao tem nada a ver com discussoes sobre o Oriente Médio.
9 commentaires:
Muito bom texto como sempre, equilibrado e inteligente. Sempre é mais fácil escrever um texto na direção política radical dominante (a blogosphere está cheia desses textos, de preferência com uma foto chocante). Escrever com consciência, responsabilidade e independência é que é difícil.
Pois é, sermos esse atraso e essa mistura de raças acaba sendo muito bom (o segundo) e tendo suas vantagens (o primeiro), pelo menos quanto à questão identitária. Agora, também não nos iludamos, neguinho aqui não chama ninguém de 'judeu fdp', mas se tiver de escolher o negro será sempre mais fdp do que o branco, sei não...
Quanto ao modo como orienta as crianças, está certa, tem de se cuidar para não se expor demais
beijo,
clara lopez
Desculpe pela minha intromissão. Cheguei até aqui através do blog do Kovacs.
Mas a sua surpresa com os modos dos franceses não é nenhuma novidade para mim.
O ódio entre os que são diferentes, seja qual for a diferença, pois existem muitas nas diversas regiões do planeta, é o tipo de ódio mais antigo da humanidade.
Cometi um deslize com o português na 2ª frase do comentário acima, mas acho que deu para entender o que quis dizer.
Em tempo: Seus textos e fotos são excelentes!
Caro Kovacs,
obrigada pela leitura sempre generosa.
Abraços do frio,
Eliana
Querida Clara,
Sei bem do que você esta falando. Mas ainda assim sinto que as coisas por aqui sao mais definidas no mau sentido. Sera que estou enganada e é tudo igual?
Bises,
eliana
Muito bem vindo, Barros.
Minha surpresa é com a desinvoltura da expressao desses "modos". E que as coisa por aqui estao mudando muito, pra pior. Quando cheguei aqui, em 199&, creio que seria iùposivel ocorrer uma coisa dessas. Havia , no comportamento geral uma maior "retenue", "postura", compreende? Da que a queixa dos estrangeiros como eu era, normalmente, contra a "hipocrisia" francesa, que podia, por exemplo, te agradar pela frente e te apunhalar pelas costas. Como acabava de viver uma situaçao de muita truculencia, apreciei essa atitude " de corte", compreendi o quanto de "civilizatorio" havia nela.
Obrigada pelos elogios. A maioria das fotos nao é minha e as ultimas sao de minha filhota.
Também gostei muito do Barros Bar. Até breve,
Eliana
Eliana
Obrigado pela recepção tão atenciosa e me desculpe por esticar o assunto.
Acho que os ingleses são os que melhor sabem como dissimular o que sentem e é irritante quando se percebe isso, pois não há como reclamar. Já os franceses, acho que depois daquela explosão de violência nos subúrbios de Paris em 2005, provocada por jovens descendentes de imigrantes que protestavam contra o racismo e o desemprego, resolveram ser mais explícitos nas suas “afirmações” sobre as diferenças.
Caro Barros,
So posso ficar lisonjeada se o assunto que proponho rende.
Nao conheço a Inglaterra mas por estas terras gaulesas a palavra de ordem agora é admitir as diferenças. Como se faz isso é outro departamento. Vou ver se escrevo alguma coisa a respeito.
Abraços,
Eliana
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