"Pecresse, t'es foutue, les professeurs sont dans la rue! " "Du fric pour la fac! ", "Du blé pour la recherche!".
O carro de som, com o som como sempre meio distorcido, urrava as palavras de ordem: "Pecresse ( A ministra da Educaçao Superior e da Pesquisa), cê ta fudida, os professores estao na rua!", " Grana para a fac!", "Erva para a pesquisa!". Atras dele, logo no principio da passeata, eu tentava me esconder entre os outros professores. Senhoras de cabelo grisalho e oculos ao lado de estudantes com laços de papel colorido na cabeça gritavam, berravam essas grosserias . Na rua os passantes paravam para nos ver passar, janelas se abriam, turistas nos fotografavam. A passeata dos professores atravessava a cidade aos berros e iria até a porta da Reitoria. La pelas tantas achei uma esquina e nela entrei. Que vergonha!
Por que sera que as passeatas se parecem todas? Sera que os professores nao se dao conta de que sua especificidade tem de ser mostrada em todas as circunstâncias, sem exceçao? Por que fazer politica tem de ser confundido com "coisa de jovem" e uma manifestaçao tem de ser grosseira?
O movimento dos professores é, ao mesmo tempo, um sucesso e um fracasso. Um sucesso em termos externos pois a mobilizaçao é enorme. Um fracasso em termos internos pois nao ha - ao menos até onde posso avaliar - o menor crescimento na consciência critica dos professores. Ha duas semanas o movimento so evolui em quantidade de adesoes. A qualidade é a mesma: é um movimento "contra". E dai nao passa.
O motivo é um decreto que muda o estatuto dos professores universitarios. Na verdade, este decreto é a consequência logica de outro que - este sim, perigosissimo - passou no ano passado sem que os professores suspeitassem de sua gravidade. Os alunos fizeram greve, protestaram, etc e tal mas os professores ficaram frios. E se tratava, nada mais, nada menos que do decreto da autonomia universitaria, muito nosso conhecido, hidra contra a qual lutamos desde os anos 70. ( Alias, um colega da USP me disse que a USP e todas as outras universidades do Estado de Sao Paulo sao autônomas e que para elas a autonomia é um sucesso. Vejam so.)
O decreto de agora, contra o qual se batem os professores, mexe diretamente com seu regime de trabalho. A partir de agora, se o decreto nao for retirado, os Presidentes das Universidades ( Reitores) sao os responsaveis pela gestao do pessoal cabendo-lhes as promoçoes do corpo docente. Além disso, os professores serao avaliados quanto a sua produçao acadêmica: quem nao tiver um determinado numero de publicaçoes tera sua carga docente aumentada. Nada diferente do que acontece no Brasil mas por aqui ninguém sabe o que é um relatorio docente de final de ano, que na UFRJ chamavamos de Planind e muito menos o que é um relatorio fnal de departamento, nosso velho Plandep. Aqui, quando se falou em exigência de produçao o céu desabou. Ai todos aqueles chavoes com cheiro de naftalina foram exumados: que quantidade nao quer dizer nada, que todo mundo vai começar "a publicar por publicar", que havera uma quantidade enorme de "artigos vazios" etc e tal. Ha gente que escreve a sério que dar mais aulas a um professor-pesquisador ( é este o titulo do professor universitario aqui) que nao pesquisa é contraproducente porque se ele nao pesquisa tendo menos aulas, pesquisara menos ainda se tiver mais aulas... e que se ele nao faz pesquisa, coitado, é porque deve estar cansado de uma vida de estudos... E que Foucault so escreveu " As palavras e as coisas" aos 50 anos. Como se fosse a primeira coisa que ele tivesse escrito... Dizer o quê?
E do X maiusculo da questao ninguém fala: como é que sera implantada a autonomia? Que fazer com os professores nao efetivos, que sao a maioria na universidade? Como modificar o recrutamento dos efetivos, que se faz por indicaçao entre Titulares (Professeurs) e Chefes de Departamento e nao por concurso? Esses sao assuntos tabou.
A impressao que tenho é que pouca gente leu o decreto. E de que a maior parte dos professores esta começando agora a pensar em politica. Fazer o quê?
3 commentaires:
Caramba, eliana, vc está fazendo passeata em paris? Vai ter um bocado pra contar aos netos, com certeza... Mas os palavrões eu adorava, falava todas as palavras de ordem e todos os palavrões nas passeatas contra o Estado. Na universidade não ia mais a assembléias, estava muito cansada de dar aulas para ainda trabalhar em greves que resultavam basicamente em aulas no verão e nas férias. Enfim, do que vc disse o mais absurdo é a maneira de escolher professores titulares, sem concurso não dá, amiga, nem, nem em paris, nem na china.
beijo, bonne chance,
clara
Bem Clarita,
Cê sabe que eu sou meio formalzona, nao é? Palavrao pra mim é linguagem afetiva, so com a familia e os amigos.
E fazer manifestaçao assim... desde o SEP eu ja discordava.
E estou ligada ao movimento de Lyon. Em Paris esta mais forte ainda.
Quanto à maneira de escolher os professores - todos os professores - a maneira é essa, na base do QI, por incrivel que pareça. Ha, teoricamente um concurso - de titulos - mas na realidade o que funciona é a "indicaçao". Fazer o quê?
Bises,
Eliana
Isso é horrível, pq estimula o puxa-saquismo, uma das pragas do mundo acadêmicojá que todos se acham o supra sumo de qualquer coisa, se tem poder então sobre os colegas, ferrou...
bjo,
clara
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