O penultimo post de Kovacs me deu vontade de apresentar a prata aqui de casa.
Ronaldo Graça é artista grafico. Faz publicidade, desenhos para publicidade, historias em quadrinhos e capas de livros. Atualmente é o capista de duas coleçoes de literatura popular, uma de Paris , outra de Abidjam, na Côte d'Ivoire (leio na Wikipédia que o governo da Costa do Marfim solicitou em 1985 à comunidade internacional que o pais fosse chamado sempre pelo nome em francês).
A coleçao de Paris chama-se "Brigade Mondaine", que é o antigo nome da divisao policial que trata "dos costumes" (repressao à droga, ao proxenetismo, etc). Sao historias erotico-policiais, escritas em linguagem simples e agil como o romance "noir" americano, num francês também simples. Vendem-se loucamente nas estaçoes de trem , em alguns quiosques de jornal e em grandes livrarias. Sao livros pra se ler rapidamente, numa viagem, por exemplo. E nao sao idiotas. Tratam de temas da atualidade: o amor homossexual, a mudança de sexo, a luta das moças pobres para subir na vida, etc e tal. Por incrivel que pareça, nem sempre o enfoque é conservador. Depende um pouco do escritor. Se o capista é um so, para garantir a identidade visual da coleçao, ha um batalhao de escritores, devidamente ocultos por pseudônimos. A identidade é dada pelo editor e dono da coleçao, o poderoso Gérard De Villiers, que aprova pessoalmente textos e esboços de capas.
A coleçao de Abidjan tem outro publico e outro interesse. Publicada por um braço da Hachete francesa, foi criada com uma subvençao estatal para estimular a leitura entre as mulheres. Poderia mesmo ser considerada um material paradidatico. Seu texto, também escrito por varios autores, é também simples e agil mas, apoiando-se nos valores tradicionais da sociedade - amor, casamento, filhos - deve estimular idéias novas tais como o trabalho feminino, a instruçao, o desejo de consumo, o desejo de viagens , etc. Vende também imensamente. Suas capas, feitas logicamente a partir dos temas dos livros, devem mostrar pessoas bonitas e valorizar o ambiente africano. Ha dois anos atras houve um seminario na nova Biblioteca de França a proposito da ultura africana e qual nao foi nossa agradavel surpresa quando soubemos que uma das comunicaçoes seria sobre a coleçao Adoras e que um de seus temas seria a fidelidade ou infidelidade das personagens de suas capas à cor real dos nativos da Côte d'Ivoire.
A arte do marido me fez entrar noutro universo ficcional e refletir mais sobre as concepçoes de arte e de literatura com que trabalhamos.