O filho chega em casa com um hematoma no rosto e uma grande escoriação no cotovelo. Que foi? Que houve? Ele esta ainda um pouco perturbado mas é com grande calma que conta à familia aflita o que acaba de acontecer:
- Fui atacado por um "horrible raquetteur" (Ele tenta dar um tom cômico a seu relato. Os "raquetteurs" são jovens que assaltam jovens vindos do colégio ou de um passeio e geralmente atacam em bandos).
-O quê? Como? Onde?
- Agora ha pouco, em frente à L'Heure Joyeuse (a biblioteca infanto-juvenil a dois passos de casa) quando eu estava indo a casa de Julien.
- O quê? Ele levou o quê?
- Pois é. Não tinha ninguém na rua, então ele chegou e me disse pra eu passar o celular. E eu disse que não tenho celular. Ai ele me disse pra eu entregar o MP4. E eu tive de dizer que não tenho MP4. Então ele me disse pra eu dar o dinheiro. E eu so tinha 25 centavos. Então ele ficou nervoso e me deu um soco na cara. Ai ele deu outro mas errou. Eu aproveitei e sai correndo pra rue Saint Jacques, onde havia gente. E ele correu pro outro lado.
A mãe quer ir imediatamente ao Comissariado registrar a queixa e fazer o retrato falado do agressor. Mas o filho esta cansado e quer ficar em casa.
A filha ri: o irmão irrita até os raquetteurs.
E ai intervém o pai: -Escuta, o cara te da um soco na cara e você sai correndo?
- Fugi bravamente, pai.
-Mas meu filho, você não tem 10 anos de judô?
- Mas pai, e se ele tivesse 11 de box tailandês?
- Meu filho, se eu chegasse em casa dizendo que tinha apanhado na rua apanharia de novo, de meu pai. Como é que você deixa alguém te dar um soco na cara?
- Eu não deixei, pai. Ele tinha uns 16 anos... Ô, pai, você é mesmo tijucano...
O pai , que por incrivel que pareça, tem uns 25 anos de yoga, nao pode deixar de rir. De fato, a época John Wayne passou. E, com a mãe relembra a triste historia do grande artista plastico que não suportou um soco na cara de um desconhecido e que, por isso, foi parar na cadeia por homicidio. As vezes, ser homem é exatamente saber suportar um soco na cara e bravamente fugir.
3 commentaires:
Enfim, madame retorna às lides, com uma historinha ótima de bravura e expertise...dois bravos para o filho, que ensina o pai os novos tempos - há que contornar as barbáries com sabedoria.
bises,
clara
O que é um ato heróico?
Nos acostumamos às bravuras de Odisseu. Coisas da mitologia.
Isto não é covardia. Nos dias em que vivemos, a inteligência deve superar o impulso. A perspicácia é importante no ato de sobreviver.
Herói? Por que? Afinal, de que vale um "orgulhoso" morto?
Minha flor, seu filho foi um heroi ao saber levar um soco e correr. Reação pra quê? Ronaldo, lo siento, mas os tempos mudaram. E todos sabemos disso muitíssimo bem. Eliana, pergunta que não quer calar: e se esse ataque tivesse acontecido no Rio de Janeiro, na zona sul, ou em São Paulo, em Perdizes ou nos Jardins? Qual seria sua reação? Tenho certeza de que os raquetteurs agem indiscriminadamente em qualquer metrópole. Meu irmão de 47 anos, quando era estudante, também foi atacado no ponto de ônibus, ao voltar para casa. Levaram seu par de tênis. Frederico, o filho de José Arrabal, também foi roubado em um ônibus, quando era moleque. Queriam lhevar-lhe os sapatos e ele negociou um boné. Como se diz por aí, "acontece", e cabe a nós prepará-los para fazer exatamente como seu filho fez. É uma arte saber irritar os raquetteurs. Que me desculpe sua filha mais velha. Bisous,
Mari-Jô Zilveti
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