Sexta-feira, sete da noite, corro pra pegar o RER ( metro interurbano) nos Invalides. Atras de mim uma moça, também correndo, me pergunta se o trem parado no cais de embarque vai a Juvisy. Respondo que nao sei, que nem me lembro de que lado fica Juvisy. Quando entro no vagao a moça chegou antes e faz sua pergunta a todos os que estao em pé . Ninguém sabe, todos olham pro esquema acima da porta procurando Juvisy desesperadamente. Nao ha tempo, a porta vai fechar, a moça tem de decidir, fica ou pula. Pula. A porta se fecha. Atras de mim, agarrada como eu ao mastro central, simpatica avo de cabelos brancos, de seus 65 , 67 anos. Cercada por tres lindas crianças em escadinha de três a seis anos, tao parecidas que nao se tem duvida de que sao irmaos. Gracinhas, me olham sorridentes, com aquele olho de criança que quer puxar assunto. A simpatica senhora me sorri também, estamos olhando as duas para o esquema acima da porta, procurando Juvisy. As crianças se mexem, a avo recomenda que se dêem as maos para se equlibrarem melhor. E se dirige a mim para dizer que Juvisy nao fica naquela direçao, a moça fizera bem em descer. Mas eu olho atentamente, descubro a estaçao e me viro pra ela: - Nao, olhai, vai passar la siii... Mas as crianças se mexeram , a avo esta dizendo ao menino que -"Nao!"- e zapt, lasca-lhe um tapa na cara na frente de todo mundo. O tapa estala, o garoto nao da um pio. Nem ninguém ali em pé. Estatelados todos nos. Um segundo so, a senhora, na sequência, olha pra mim com o mesmo sorriso finissimo , a mesma voz sem nenhuma alteraçao: -" Desculpe, nao ouvi bem, a senhora dizia?" Eu consigo balbuciar que tinha achado Juvisy no esquema. E ela, sempre imperturbavelmente sorrindo: -"E mesmo, eu ja tinha reparado, foi pena ela ter descido...". E, como se no teatro, o trem para imediatamente e desce a doce avo com seus adoraveis netinhos.
Samanta Schweblin - Kentukis
Il y a 1 semaine
5 commentaires:
Texto delicioso, pura literatura (cheguei a escutar o tapa surpreendente).
Nota: Com relação ao mapa é mesmo lindo, quando será que o Rio de Janeiro contará com uma rede similar?
Caracas, estás escrevendo bem à beça, um conto maravilhoso, crueldade doce e praticada por velhinha é até covardia, né não? :)
(pra ficar perfeito, eu só tiraria os adjetivos da frase final - sem 'doce' nem 'adoráveis').
beijo,
clara
Sou mais um a elogiar seus textos. Consegue contar sua história entrelaçada com a vida de pessoas comuns com suas peculiaridades parisienses de uma forma deliciosa de ler, e ainda dando dicas sobre Paris.
Muito bom!
Uma atitude bem parisiense em sua "delicada" forma de ser.
Quanto à matéria, é relamente bem contada e envolvente. Muito boa postagem...
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