O complexo de Portnoy foi pra mim uma revelaçao quanto aos poderes da literatura.
Mas pra falar de velhice e de morte, quer dizer, da transitoriedade da vida, acho que continuo preferindo a perspectiva de outro americano, autor de livros que com toda a certeza você conhece muito bem: um deles começa com o personagem encontrando sua perfeita mulher morta no carro, na garagem. suicidio. O outro livro tem como personagem central um advogado baixinho que é "commis d'office" na defesa em apelaçao de um acusado de assassinato e que clama inocência. O que esses livros têm em comum é a aceitaçao implicita das conjunturas da vida. O que me incomoda no livro que você resenhou - brilhantemente, como sempre - é um certo lamento implicito. - Oh, por que fiquei incontinente, por que fiquei impotente! Suponho que no livro nao falte o tom auto-sarcastico, que na verdade é auto-comiserativo. Estarei errada?
Penso que o romance a ser escrito deveria partir da constataçao: fiquei incontinente e impotente porque me livrei de um câncer de prostata. Porque sou um felizardo que nao vai morrer de uma morte horrivel. Pude escolher nao morrer assim. E duro viver assim mas se nao sou uma pessoa embrutecida, sei que o sexo e o amor nao se resumem ao ato sexual executado de forma classica. E que a vida é grande. E que quando a gente chega no limite dela - gente da nossa estampa - sempre pode tomar o numero certo de pilulas para dormir eternamente.
Suponho que o excelente autor de Pornoy nao teve câncer de prostata e nunca acompanhou a evoluçao de um.
Querido Kovacs, espero nao ter abusado de sua hospitalidade. E que, atualmente, todo livro que me pareça apresentar a vida como triste, amarga, madrasta ou sem saida me parece bobo. Gente, a morte nos espera ali mesmo. e quem nao esta satisfeito sempre pode pegar um atalho pra saida, nao é mesmo?
Beijos,
Eliana
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire