Fui a Barcelona pela primeira vez ha muitos anos, com uma amiga. Maria Lucia era a chefe da expediçao, ela que ja estivera na Europa varias vezes e que falava todas as linguas.
Chegamos de trem. Maria Lucia, espertissima, sabia como economizar cada tostao de nosso suado dinheirinho . Na estação olhou para os lados e descobriu um senhor com cara de quem procurava alguém. Olharam-se os dois e ele nos abordou. Propunha-nos um quarto no apartamento que dividia com seu filho e sua nora. Eu, apavorada, quis recusar. Minha amiga aceitou calmamente. O preço era baratissimo e o apartamento perto da estaçao. Subimos uma escada escura e oscilante e no primeiro andar entramos no apartamento onde um casal bem jovem ja mostrava outro quarto a um outro hospede que parecia, como nos, ter sido pescado na estaçao.
Deixamos as malas e fomos passear. Ja estava tudo escuro mas iriamos embora na noite seguinte e cada hora era preciosa. Na rua fizemos sinal para o primeiro ônibus que passou. Onibus vazio, so o motorista e nos. Ele nos olhou sorridente e perguntou-nos se éramos turistas . A resposta parecia obvia. Perguntou-nos entao se queriamos jantar muito bem. Maria Lucia disse que sim e que tinha uma indicaçao. -Mas não, respondeu ele, não é o melhor lugar. Vou deixa-las num restaurante muito melhor. E toca a fazer minha amiga gastar seu castelhano. Eu, super apreensiva. Deixou-nos numa rua escura e disse-nos que subissemos a rua ao lado. Maria Lucia agradeceu e intrépida, seguiu as indicaçoes. Eu trotava atras dela, meio atordoada.
Chegamos a um enorme restaurante, como uma grande churrascaria. Completamente vazio. Ao fundo, um grupo de homens conversava. Ja iamos dar meia-volta quando um deles nos viu e veio-nos receber. Era o dono, que estava com o gerente e alguns amigos. Fez questao de servir-nos e escolheu ele mesmo o prato que, segundo ele, tinhamos de comer. Ao saber que éramos brasileiras mandou chamar seu filho, que acabava de voltar do Carnaval do Brasil encantado, maravilhado, em transe. Veio o rapaz com estrelas nos olhos ao falar das férias. Puxou de dentro do bolso interno do paleto ( todos estavam de terno) uma pilha de fotos do Carnaval. Em cada uma estava ele abraçado com as mulheres mais gostosas com os biquines mais taitianos. Aquelas fotos. Maria Lucia e eu nos entreolhamos. Que é que estaria passando pela cabeça daqueles homens?
Pois é. Poderiamos ter ficado assustadas, poderiamos ter ficado constrangidas, poderiamos ter passado um mau momento. Se uma de nos não fosse Maria Lucia, a rainha do savoir faire, a dona da bola, diplomada em charme. Ela dominou a conversa e levou-a pra onde quis, contou casos, riu e fez rir, botou a homarada no seu lugar transformando todos na mais divertida companhia do mundo, nos permitindo saborear a melhor paella da minha vida. Saimos do restaurante com a noite ganha e a melhor impressao da Catalunha.
Voltei a Barcelona no inicio de novembro, com a familia. Quedê que eu consegui localizar o restaurante?
3 commentaires:
Eliana. Eu sou suspeito, pois sabe o quanto sou apaixonado por Barcelona... pretendo um dia voltar lá...
Quanto a restaurantes e bares da vida. Aprendi que quando a gente gosta tem que pedir um cartão. Se não tiverem, peça o endereço, o telefone, qualquer coisa, pois tal e qual você, perdi muitos lugares 'imperdíveis' na vida!
E isso é lamentável...
Grande aventura, querida, não por acaso a memória falhou quando entrou a família, é porque essa lembrança é só sua...(psicologia barata, a minha...::))
As fotos estão ótimas, mas cadê as do gaudí? a maria lucia de quem vc fala é a que eu tb conheço?
beijo,
clara
São dessas coisas mágicas que acontecem ao doce sabor do acaso e que nunca se repetem. São para serem únicas mesmo....É o sabor (saber) da aventura....:)
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