A senhora chega ao Consulado para votar. Munida do passaporte, faz a primeira fila para pegar o novo titulo eleitoral e dirige-se a sua seçao.
La chegando, o mesario examina seu documento com fotografia, seu titulo e quando procura seu nome na listagem dos recibos não o acha.
-A senhora mudou de nome?
-Não senhor.
-Seu nome nao consta da listagem. Aguarde um momentinho.
A senhora se senta tranquilamente e observa o movimento. Uma outra senhora se atrapalha na urna eletrônica, se engana e em altos brados e para estupefação geral, pede instruções aos mesarios sobre como corrigir seu erro. Instruções dadas ela vota e sai da cabine sob sorrisos gerais, enquanto entra a supervisora:
-Queira me acompanhar, por favor. O problema é que, seu nome não estando na listagem, a senhora não pode votar.
-???
- Vamos falar com o diplomata responsavel pela eleição aqui no Consulado para saber o que se tem de fazer.
O diplomata responsavel pela eleição no Consulado esta na porta do mesmo. Parece que teme uma invasão democratica do povo sedento de voto. Nesse momento tenta impedir a entrada de uma senhora que ja votou mas que esqueceu dentro do Consulado sua filha de doze anos que fora ao banheiro. A menina nao pode ficar la dentro e a mãe aflita consegue entrar. A funcionaria pede a atenção do diplomata e vão os três para um canto mais tranquilo.
- A senhora aqui esta com seu passaporte e seu titulo mas seu nome nao consta da listagem da seção. Como se deve proceder?
- Se o nome nao esta na listagem a senhora não pode votar - decreta ele sem titubear. Recebemos um manual de instruções do TSE e não podemos fazer nada diferente do que esta determinado nele.
- Bem, mas o voto é obrigatorio, eu estou aqui com os documentos em ordem, como vou fazer? - pergunta a senhora ja um pouco ansiosa.
- A senhora deve entrar no site do Tribunal e verificar sua situação eleitoral - conclui o diplomata em tom de quem diz "quem avisa amigo é". Não podemos fazer nada.
A senhora respira fundo. - Meu senhor, compreendo perfeitamente sua situação. Agora gostaria de que o senhor compreendesse a minha. O voto é obrigatorio. Como é que vou provar ao TSE que estive aqui, com os documentos em ordem e não votei porque meu nome não esta na listagem? Eu não vi essa listagem, seus funcionarios é que estão dizendo que meu nome não esta la. Assim, peço que o senhor me faça uma declaração do que esta acontecendo para que eu a encaminhe ao TSE.
Silêncio. O diplomata responsavel pela eleiçao no Consulado pisca duas vezes.
- Se a senhora quer verificar, va àquele balcão ali e veja se seu nome esta la.
- Trata-se de uma lista das pessoas impedidas de votar?
- Não, é uma listagem geral de todas as pessoas inscritas no Consulado.
- !!!!!
O balcão é o mesmo no qual a senhora pegara seu titulo. A pessoa responsavel pela lista confirma: - Mas claro que seu nome esta aqui. A senhora não passou agora mesmo para pegar o titulo?
Verificacaçes feitas, constata-se o obvio: por erro, o numero de seção impresso no titulo não é o mesmo do impresso diante de seu nome na listagem geral dos inscritos no consulado. A senhora é encaminhada à outra seção.
La chegando, a mesaria não quer que ela vote porque segundo seu titulo, ela não pertence àquela seção. Mas ao verificar que seu nome consta de sua listagem, permite seu voto. Vitoria.
Ao sair da cabine a senhora se dirige ao diplomata responsavel pela eleição no Consulado e mostra-lhe a anotação feita à caneta pela funcionaria, na margem do titulo, do verdadeiro numero de sua seçao.
Ele não se altera: - Tratou-se de um erro do Consulado. A senhora pode votar.
- Eu ja votei!
- Então, no inicio de novembro a senhora volte para retificarmos.
- Eu ja votei!
- Então, no inicio de novembro a senhora volte para retificarmos.
A senhora se retira pensando se todos sabem mesmo que os tempos do autoritarismo ficaram para tras. Que teria acontecido se ela não tivesse pedido ao diplomata responsavel pelas eleições no Consulado uma prova escrita da decisão que ele tomara?
2 commentaires:
Outro excelente conto de pequenos detalhes do nosso dia a dia.
Eliana, você deveria reunir uma série e lançar um livro. São todos muito bons!
Muito bom, querida, mas mesmo com a senhora não se intimidando com o chefete da embaixada não seria o caso de falar um pouco mais perto do ouvido do sujeito sobre o ar sobranceiro dele? De todo modo, não arredar o pé foi ótimo, os burocratas sempre nos fazem rir um pouco no fim.
Beijos,
clara
Enregistrer un commentaire