Ha pouco tempo, por circunstâncias profissionais, fui a uma cerimônia universitaria em homenagem a uma professora que se aposentava. Como não pertenço a seu circulo de amigos, não estava emocionalmente envolvida na despedida. Assim, os discursos que ouvi me pareceram estranhos. Pois giraram todos em torno do tema da "familia": "Fulana, eis aqui Fulano, Sicrano, Beltrano (e desfilaram todos os nomes dos membros do departamento a que pertencia a homenageada, assim como os de membros de outros departamentos, seus amigos pessoais), nos somos sua familia, você deixa laços de afeto, nosso amor a acompanha, volte sempre, volte quando quiser, venha nos visitar, precisamos de você, etc e tal".
Fiquei pensando que, caso tivesse tido um percurso estavel e viesse a me aposentar por limite de idade na universidade onde permanecera por trinta anos, como era o caso, não gostaria de ouvir um tal discurso. Gostaria de ouvir que meus cursos foram muito apreciados, que pelo menos alguns de meus alunos desenvolveram uma carreira, nao necessariamente universitaria, contando com idéias que tiveram a partir de minhas aulas, que o que publiquei fora util, que minha presença no departamento tinha sido aglutinadora, que eu tinha preparado minha saida. Claro que gostaria de saber que tinha feito amigos e que poderia contar com eles ( o que se espera dos membros da familia). Mas num momento crucial como esse, o que gostaria de ouvir era que eu concluia uma vida universitaria enfim, por definiçao aberta e justamente não familiar. Melhor ainda, que minha aposentadoria não significava minha reclusao perpétua a "meus aposentos" mas que o espaço publico continuava aberto para mim através dos programas de pesquisa dos quais eu ja fazia parte e dos quais continuaria a fazer parte, certamente noutra posição. Sonhos demais? Fiquei pensando também o que significariam tais discursos na boca de antropologos. Que diziam tais palavras sobre a homenageada e suas relações universitarias? Que diziam tais palavras sobre o conceito de universidade naquele circulo?
Lembrei disso depois de ler esta manha no blog de Mari-Jô Zilvetti, Nomadismo Celular, o artigo de Jonathan Franzen sobre o derramamento de sentimentos no espaço publico, merci, Mari-Jô!
8 commentaires:
Eliana, seria bom se pelo menos eles sentissem que houve uma aposentadoria, na maior parte das vezes ninguém por aqui dá a mínima e depois de alguns meses sequer lembram de que vc existiu naquele espaço. Não apenas não fica aberto um lugar para seu trabalho como a mesquinharia da galera cancela seu credenciamento no colegiado da pós, para não dividir orientandos. Enfim, nesse quesito, somos ainda de quinto mundo. Por isso, euzinha quero mesmo que me esqueçam, e gosto de que só os alunos lembrem de mim.
beijo,
clara lopez
O problema é que a , como disse você, " mesquinharia da galera" é que esta à frente da Universidade. Que horror!
Mas sera que isso so acontece no "quinto mundo"? Nada menos erto.
Bises,
Eliana
Bom, eu só conheço de trabalhar aqui nesse quinto mundo, em vários lugares, mas sei que vc vê coisas cabeludas abroad, e eu não entendo como é que um espaço que deveria ser de dignificação acima de tudo, apesar de sermos todos tão falíveis, é verdadeiramente um lugar da mesquinharia mais feroz. Precisava um conselho de sociólogos, antropólogos e todos os -ólogos para explicar isso direitinho.
beijo,
clara
Boa noite a todos!
Interessante a matéria.
Quando o reforço no discurso não ultrapassa o espaço físico do profissional, fica realmente uma sensação de que não houve um avanço por parte do mesmo, em relação ao cumprimento do seu papel de levar a um entendimento ao próximo de 'cidadania universal', ou 'mundial', como queiram.
Talvez o discurso procurasse valorizar exatamente o que este profissional valoriza como projeto pessoal (ter os colegas de trabalho como uma família), entretanto deixaram de expor da importância, da continuidade das idéias daquele 'mestre' para os 'aprendizes' que continuarão aquele espaço social universitário.
Boa semana!
Às vezes --humanos que somos-- nos envolvemos com conceitos e formas completamente equivocados.
A vaidade pode nos levar a caminhos opostos à sua proposta inicial, tão simples... è o resultado da busca do Olimpo individual nos louros de uma glória inútil.
Afinal, tudo perece e somos réles mortais!
Clara,
E como nao adianta chorar...
Bises,
Eliana
Oi Ligia,
Fica faltando o diferencial do universitario, nao é mesmo?
Um abraço,
Eliana
Jonga querido,
Parece que vaidade e universidade é mais que uma rima...
Beijim,
Eliana
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